Hoje, grávida de quatro meses e com um filho de três anos e
dois meses eu me questiono muito sobre o meu método de criação, sobre as minhas
decisões quando estou de cabeça quente, os meus medos antigos e atuais e me
pergunto quase que diariamente: O que eu quero para os meus filhos?
Ontem, meu marido fez uma curta viagem e quando chegou
estava cansado e queria ver a luta na tv, o Murilo (meu filho de 3 anos) não
tinha dormido de tarde e ao contrário do que acontece com muita criança, ele
quando fica cansado fica ainda mais agitado do que o normal, luta com o sono
com unhas e dentes e se você fala a palavra com D ele pula pra fora da cama e
começa a comer de um lado para o outro, o que deixa o Marlon meio doido as
vezes porque ele simplesmente não entende como uma criança pode ser tão agitada
assim, apesar de todos dizerem que ele quando era criança era três vezes pior.
Então eu com minha calma absoluta e minha atual dor nas
costas permaneci na cama, chamando o Murilo pra deitar comigo, e nesses cinco
segundos de calmaria eu conversava baixinho e acariciava, tentando assim
fazê-lo se acalmar para partirmos pro estagio do ronco. Não funcionou, mas
nunca funciona quando o pai do Murilo quer ficar acordado com a tv ligada na
nossa cara e o menino achando que aquilo é sinal que ele ainda tem tempo pra
brincar, sqn na cabeça do papai.
Nos intervalos das lutas o Marlon implicava, ficava
chamando, estimulava a agitação, e aí quando a luta começava ele queria de
volta a calmaria. Sério Claudia, senta lá.
Não sei como os papais (tios, avós, primos mais velhos...)
são por aí, mas aqui em casa o pai do Murilo muitas vezes me parece ter a idade
mental de uma criança de cinco anos, porque ele realmente acredita que existe
um botão de On e Off onde você pode simplesmente mudar a estação e ter a
criança dos seus sonhos ao seu dispor. Querido, isso não vai rolar.
Todo esse blábláblá é para chegar aqui, na questão que meu digníssimo
marido levantou: Por que ele não pode ser quieto?
É isso que eu quero para o meu filho? Que ele seja sempre a
criança bem comportada? Que graça teria nisso?
Eu que joguei bolinha de gude, brinquei de pique esconde,
carrinho e mais andava com meninos do que com meninas na infância, eu que subia
em árvores, colecionava aranhas vou realmente desejar que meu pequeno príncipe seja
aquela criança pacata, quietinha e que nunca apronta uma para eu contar pra
família nos nossos encontros?
Gente, criança que corre, pula, se machuca, levanta, faz
artes, bagunça a casa é UMA CRIANÇA SAUDAVEL. Quantas vezes você já se pegou
olhando seu filho cabisbaixo por causa de uma febre, dor de ouvido ou gripe e
disse “Sinto falta daquela bagunça”, ou “Preferiria mil vezes ele correndo pela
casa do que vê-lo assim”, imagine o quão triste deve ser para uma mãe que tem
um filho especial, que fica na cadeira de rodas ou na cama todo o tempo sem
poder fazer todas as farras que o seu filho faz, imagina o quão doloroso deve
ser para ela saber que aquele serzinho que um dia ela sonhou poder vê-lo
correndo atrás de uma bola nunca fará isso. Gente, precisamos parar com essa
ideia de filho perfeito, de filho que não grita, que não esbarra nas coisas ao
passar correndo, que não faz arte e que você nunca é chamada na escola. Você
tem um FILHO e não um ROBÔ. Paremos agora de nos preocupar tanto com o que os
outros dizem e pensam sobre nossos métodos de criação e foquemos apenas naquilo
que importa: Nossos filhos são felizes? Se seu filho é quieto por natureza e
nunca apronta, que bom, parabéns! O meu não é assim.
Nas filas de espera por uma consulta o filho de todo mundo
está sentado comportado e o meu está correndo por aí, nas festinhas de
aniversário eu sou aquela mãe que nunca para sentada por que está sempre andando
atrás da cria pra ver se está tudo bem, a minha casa nunca está TOTALMENTE
arrumada porque tem sempre muito brinquedo espalhado, meu filho adora pular
degraus e correr e sabe de uma coisa? Ele é feliz, eu sou feliz e eu me sinto
feliz por ser eu a estar lá com a mão erguida quando o degrau é alto demais,
sou eu pra quem ele corre quando girar demais o deixou tonto e ele caiu no
chão, sou eu que beijo seus dodóis e eu que sorrio feito uma idiota por vê-lo
sendo uma criança, saudável e feliz. Isso importa, essas são as memorias que
ele vai levar consigo quando crescer e não daquele dia que ele saiu comigo e eu
o deixei obrigatoriamente sentado em uma cadeira por uma hora e meia enquanto
todos os coleguinhas brincavam ao redor, mas eu estava preocupada demais com o
que os outros iam pensar se o vissem descabelado e sujo em uma festinha de
criança.
Respeito aqueles pais que não pensam como eu, respeito os métodos
de criação de cada um, até porque só a gente sabe onde nosso calo aperta, mas
aqui em casa, enquanto eu puder deixar a criança ser criança eu farei, porque é
uma fase que passa muito rápido, e uma criança que obedece por que ela
realmente quer obedecer é completamente diferente de uma criança que obedece
por medo de represálias.
O que eu quero para os meus filhos? Que eles sejam crianças
felizes. Eu cresci correndo e brincando e me tornei uma adulta da qual tenho
muito orgulho, porque com ele tem que ser diferente? Não tem. Ser feliz é o que
importa.
Bom domingo, tchau!